"Vem, Noite antiqüíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite

Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito. (...) "
[Álvaro de Campos (F. Pessoa), Fragmento de Ode I, in: "Fernando Pessoa: poesia", por Adolfo Casais Monteiro, 10ª ed., Rio de Janeiro, Agir, 1989, p. 76 (col. Nossos Clássicos)]

"(...) noites como esta, em que já não me será dado viver."
[Jostein Gaarder, "A garota das laranjas", Trad. Luiz Antônio de Araújo, São Paulo, Companhia das Letras, 2005, p. 127 (citação possivelmente de outrem, constante também em alguma página anterior, provavelmente)]
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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Sobre detecção de espíritos (Suzana Herculano-Houzel)

(...)
Donde a pergunta inevitável, em tempos de Chico Xavier se tornando fenômeno de bilheteria nacional, durante a primeira aula sobre os sistemas sensoriais para minha turma de psicologia na UFRJ: e os espíritos? Como nós os detectamos?

Resposta em palavras escolhidas a dedo pela Neurocientista de Plantão: até hoje não foi detectada nenhuma forma de energia que possa corresponder a manifestações espíritas. Nenhum aparelho acusa qualquer tipo de variação de energia externa ao cérebro que possa ser relacionada à sensação de "presença espírita" relatada por algumas pessoas. Se esse for de fato o caso, "espíritos" não podem ser "detectados pelos sentidos".

"Mas não pode ser o caso que essa forma de energia existe, e só não sabemos como ela é, então não temos aparelhos para acusá-la?" Pode, teoricamente pode. "E será que algumas poucas pessoas não possuem os receptores sensoriais necessários para detectá-la, e a maioria das pessoas não?" De novo, teoricamente sim.
Mas, enquanto não houver uma variação de energia "espírita" detectável e não for encontrado um tipo de célula no corpo sensível a ela, não dá para falar em "sentir" espíritos - não no sentido dos outros sentidos.

Por outro lado, há vários estudos em neurociência que mostram que a percepção de presenças atribuíveis por exemplo a espíritos está associada a um padrão de ativação em regiões do córtex, como o parietal posterior e o lobo temporal. "A-ha, então os espíritos agem diretamente sobre o córtex cerebral!", podem dizer alguns. É uma interpretação possível - assim como é possível a outra interpretação, de que a percepção da presença do espírito é uma criação do seu córtex temporal. Mas enquanto a interpretação espírita não é testável pela ciência, a segunda interpretação é - e sim, é possível *provocar* uma sensação espírita apenas manipulando a atividade do cérebro...

Se Deus/espíritos/almas são uma criação do seu cérebro ou os criadores dele, portanto, fica a critério de cada um. A ciência nem prova, nem desaprova...

[excerto do post "O efeito Chico Xavier sobre as aulas de neurociência" - texto completo em:
http://www.suzanaherculanohouzel.com/journal/2010/4/29/o-efeito-chico-xavier-sobre-as-aulas-de-neurociencia.html]

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