"Vem, Noite antiqüíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite

Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito. (...) "
[Álvaro de Campos (F. Pessoa), Fragmento de Ode I, in: "Fernando Pessoa: poesia", por Adolfo Casais Monteiro, 10ª ed., Rio de Janeiro, Agir, 1989, p. 76 (col. Nossos Clássicos)]

"(...) noites como esta, em que já não me será dado viver."
[Jostein Gaarder, "A garota das laranjas", Trad. Luiz Antônio de Araújo, São Paulo, Companhia das Letras, 2005, p. 127 (citação possivelmente de outrem, constante também em alguma página anterior, provavelmente)]
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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Cérebro ideológico (Hélio Schwartsman)


25/09/2012-03h30 - [Folha de São Paulo]

Cérebro ideológico (Hélio Schwartsman)

SÃO PAULO - Muito interessante o exercício do Datafolha de mensurar o conservadorismo/liberalismo da população paulistana. O ligeiro excesso de pessoas com ideias mais à direita (34% contra 27%) ajuda a explicar o fenômeno Russomanno, mas isso é só a ponta do "iceberg".

Desde que a ciência começou a investigar a orientação política das pessoas, há cerca de 40 anos, tivemos algumas surpresas. Para começar, o papel do DNA é maior do que se suspeitava. Um estudo de John Hibbing de 2005 que envolveu mais de 8.000 pares de gêmeos nos EUA estimou que genes respondiam por 53% da variação no perfil ideológico.

Cuidado, não se deve imaginar aqui que existe o gene do PT e o do PSDB. O efeito é bem mais indireto. Fatores hereditários têm peso importante na formação da personalidade, que é razoavelmente estável ao longo da vida e determinante para definir como nos sentimos em relação a uma série de questões como igualdade, justiça, autoridade, pureza --itens que constituem a base da identidade moral de cada indivíduo.

Outro ponto interessante é que já quase dá para ver a coloração política das pessoas em exames de neuroimagem. Um trabalho de 2011 de Ryota Kanai mostrou que conservadores tendiam a ter amígdalas, estruturas cerebrais envolvidas na memória das emoções, maiores e mais ativas. Já liberais exibiam maior quantidade de massa cinzenta no córtex anterior cingulado, que processa informações contraditórias. O conservador seria assim um sujeito mais intuitivo e com baixa tolerância a incertezas. O liberal, por seu turno, seria mais reflexivo. Não liga tanto se o mundo é um lugar meio sem sentido.

O bacana aqui é que, como o voto é o resultado de interações complexas entre indivíduo e sociedade, por mais que avancemos no entendimento do cérebro ideológico e da política partidária, eleições, ainda que encerrem alto grau de previsibilidade, sempre nos reservarão surpresas.

[http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/1158451-cerebro-ideologico.shtml]

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