Baita ciumeira (Rodolfo de Souza - Diário do Grande ABC)
27/09/2010
O ciúme é um sentimento perverso, capaz de confundir o próprio ciumento
O ciúme é um sentimento perverso, capaz de confundir o próprio ciumento. Não são palavras de psicólogo, psiquiatra ou outro profissional habituado a lidar com gente doida. Perdão, doída. O diagnóstico parte, na verdade, de um observador de longa data, perplexo com a atitude do ser humano do sexo feminino, por exemplo, irritado, feroz, até violento, com a corriqueira viradinha de cabeça à passagem de um belo e insinuante corpo escultural.
É comum, inclusive, o estalo de um tapa a encher de sonoridade o ar, intenção clara de retornar o rosto à posição inicial. Beliscões silenciosos e pisadas escandalosas também são recursos utilizados por meninas de qualquer idade.
Certa vez presenciei uma cena que me encheu de consternação e revolta: uma garota pisou, com toda a força de sua raiva, o pé do namorado que desviara discretamente a atenção da conversa para um bumbum faceiro que transitava pelo local. Pude sentir na expressão de dor do rapaz o peso do salto alto. Agressão justificada porque, com toda a certeza, na intimidade, a fêmea em questão tinha seu pensamento todo voltado para o jovem e cocho mancebo, sem espaço para qualquer outro belo exemplar da espécie.
Coisas de mulher? Qual o quê. Macho que é macho, também, não permite que seu bem suspire fundo depois daquela vista d'olhos que o sexo oposto dá quando está diante de um sujeito sarado. É imperceptível aquele movimento ligeiro de olhar, sem mover a face. Mas o que denuncia mesmo é o bendito suspiro. Às vezes uma blusinha justa também auxilia no delato que enfurece o companheiro, como se em sua mente, da mesma forma, pairasse somente a imaculada figura de sua amada.
Hipocrisia desmesurada, pois, conveniências à parte, manifestações exageradas de ciúmes tendem a ruir o que poderia ser um bom relacionamento, tolerante e empático.
É natural que haja comprometimento de ambas as partes quando na relação prevalece o amor, por meio do qual naturalmente vem o respeito. A fidelidade, então, é só consequência, que não pode ser exigida. Se imposta, a união não tem razão de ser, inexiste.
A situação de constante vigilância com excesso no cuidado é fruto da insegurança da pessoa que não confia em si e entra sempre em pânico ao imaginar a outra em cama alheia. Rejeição difícil de suportar que por certo a torna ainda mais frágil. Afinal, são seres frágeis que não aprenderam que quem ama liberta, pois que a liberdade é essencial na vida e no amor.
Rodolfo de Souza nasceu e morou por 44 anos em Santo André, onde trabalhou no setor de logística de várias empresas e se formou professor. Há 8 anos reside em Peruíbe, Litoral Sul. E-mail para esta coluna: souza.rodolfo@hotmail.com.
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