Em Retratos de memória, o filósofo Bertrand Russell (1872-1970) conta que, por volta de 1913, tinha entre seus alunos da Universidade de Cambridge um tão esquisito, a ponto de, após todo um período letivo, o filósofo não saber dizer se se tratava apenas de um excêntrico ou de um homem de gênio. Sua perplexidade aumentou ainda mais quando foi procurado pelo estranho aluno, que lhe fez uma insólita pergunta: “O senhor poderia me fazer a fineza de me dizer se sou ou não um completo idiota?”. Russell respondeu que não sabia e perguntou-lhe das razões de sua dúvida. O aluno replicou: “Caso seja um completo idiota, me dedicarei à aeronáutica; caso contrário, tornar-me-ei filósofo”. Russell não encontrou outra saída para se desfazer da embaraçosa questão, a não ser pedindo-lhe que escrevesse um assunto filosófico qualquer, e depois lhe mostrasse. Passado algum tempo, o aluno retornou com o trabalho e o filósofo depois de ler apenas uma linha, sentenciou: “Não, você não deve se tornar um aeronauta”.
A partir daí Wittgenstein, o aluno excêntrico, abandonou totalmente qualquer preocupação com engenharia de aviões, tornando-se não apenas mais um filósofo entre outros, mas uma das principais figuras da filosofia do século XX.
[Ludwig Wittgenstein, Investigações filosóficas, José Carlos Bruni (trad.), São Paulo, Nova Cultural, 1999, p. 5 (col. Os pensadores)]
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