"Vem, Noite antiqüíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite

Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito. (...) "
[Álvaro de Campos (F. Pessoa), Fragmento de Ode I, in: "Fernando Pessoa: poesia", por Adolfo Casais Monteiro, 10ª ed., Rio de Janeiro, Agir, 1989, p. 76 (col. Nossos Clássicos)]

"(...) noites como esta, em que já não me será dado viver."
[Jostein Gaarder, "A garota das laranjas", Trad. Luiz Antônio de Araújo, São Paulo, Companhia das Letras, 2005, p. 127 (citação possivelmente de outrem, constante também em alguma página anterior, provavelmente)]
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quinta-feira, 7 de julho de 2011

A vida do homem vista de fora da terra (B. Russell)

"Os sonhos pessoais do homem e dos grupos podem ser hilariantes, mas os seus sonhos humanos coletivos são patéticos, para nós que não podemos ir além do círculo da humanidade. Como a astronomia o revela, o universo é muito vasto. Quanto haverá fora do alcance de nosso telescópios não podemos dizer: mas o que já conhecemos é de inimaginável imensidão. No mundo visível a Via Látea é um minúsculo fragmento; dentro desse fragmento, o sistema solar é uma poeirinha infinitesimal, e dessa poeira o nosso planeta é um grão microscópico. Sobre esse grão, insignificantes conglomerados de carvão e água impura, de complicada estrutura, com propriedades físicas e químicas um tanto fora do comum, rastejam durante alguns anos, até se dissolverem de novo nos elementos que os compõem. Dividem o tempo entre o trabalho destinado a adiar o momento da própria dissolução e lutas frenéticas para apressar a destruição dos outros. Convulsões naturais periodicamente destroem alguns milhares ou milhões deles e a doença varre prematuramente outros tantos. Esses acontecimentos são considerados desgraças; mas quando os homens conseguem infligir análoga destruição por meio dos seus esforços, rejubilam-se e dão graças a Deus. Na vida do sistema solar, o período durante o qual a existência do homem terá sido fisicamente possível é uma fração diminuta; mas há razão para esperar que mesmo antes de terminar esse período o homem tenha posto fim à própria existência graças aos seus esforços de aniquilamento mútuo. Tal é a vida do homem vista de fora.

[Bertrand RUSSELL, Ensaios céticos, Trad. Wilson Velloso, Rio de Janeiro, Opera Mundi, 1970, pp. 72/73 (Biblioteca dos Prêmios Nobel de Literatura)]

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