“CARNE TAMBÉM É ISTO.
(...) Leitões são castrados sem anestesia e vivem em cercados superpovoados para se locomoverem menos e, assim, engordarem mais e mais rápido.”
[Folha de São Paulo, 28/fev/2011, Caderno Folhateen, p. 8 (matéria/reportagem sobre consumo de carne e vegetarianismo)]
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AS RAZÕES DO PORCO (Fábula)
Lá ia para o mercado a carroça dum sitiante. Dentro, três animais: uma cabra, um carneiro e um leitão. Cabra e carneiro seguiam em silêncio, muito sossegados da vida. Já o porquinho espiava pelas frestas, cheio de apreensões. E quando avistou o mercado não se conteve: abriu a boca e berrou como se estivessem a sangrá-lo no coração.
- Para que isso? - disse a cabra. Também eu vou para a feira e no entanto a ninguém incomodo com esse berreiro descompassado.
- Também assim penso - ajuntou o carneiro. Vamos ser vendidos, quer dizer, vamos mudar de dono. É tolice lamuriar dessa maneira por coisa tão sem importância.
O porquinho berrou ainda mais, e por fim, explicou-se:
- É verdade, vamos ser vendidos os três. Mas tu, cabra, teu destino é dar leite; e tu, carneiro, tua função é produzir lã. Compreendo que seja indiferente para ambos que dês leite ou lã a este ou àquele. Mas eu - eu só presto para ser comido, e ir para o mercado não me é apenas mudar de dono mas mudar de mundo. Vou para o açougue - coim coim! Como então quereis que me conforme com a sorte e vá nesse sossego de cabra e nessa indiferença de carneiro? Tivésseis o meu destino de havíeis de berrar ainda mais forte...
E continuou a botar a boca no mundo.
[Monteiro LOBATO, Fábulas, São Paulo: Brasiliense, 2005, p. 46 (Sítio do Picapau Amarelo)]
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DESTINAÇÃO
“Carcaça, tu tremes? Tremerias mais ainda se soubesses aonde te levo.”
[Turenne, citado por F. Nietzsche, A gaia ciência, livro V (Nós, os sem-medo), in: F. Nietzsche, "Obras incompletas", col. Os pensadores, Nova Cultural, São Paulo, 1999, p. 195]
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PORCOS E HOMENS
“Doze vozes gritavam, cheias de ódio, e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco.”
[George Orwell, A revolução dos bichos (§ final), trad. Heitor Aquino Ferreira, São Paulo, Globo, 2003, p. 117]
retratos de memória, frases diversas, fotos, ilustrações, coisas sem importância alguma & variedades de todo o gênero
"Vem, Noite antiqüíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito. (...) "
[Álvaro de Campos (F. Pessoa), Fragmento de Ode I, in: "Fernando Pessoa: poesia", por Adolfo Casais Monteiro, 10ª ed., Rio de Janeiro, Agir, 1989, p. 76 (col. Nossos Clássicos)]
"(...) noites como esta, em que já não me será dado viver."
[Jostein Gaarder, "A garota das laranjas", Trad. Luiz Antônio de Araújo, São Paulo, Companhia das Letras, 2005, p. 127 (citação possivelmente de outrem, constante também em alguma página anterior, provavelmente)]
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